domingo, 30 de agosto de 2009


PINTURA DE MARIA HELENA ALVES

Exposição retrospectiva de trabalhos seus e que será inaugurada, pelas 17 horas de sábado, dia 12 de Setembro, na Sala de Exposições do Centro Cultural Dr. Marques Crespo, na Rua João de Sousa Carvalho, em Estremoz.
A iniciativa é da Associação Filatélica Alentejana e conta com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz.
A Exposição estará patente ao público até ao próximo dia 25 de Outubro, podendo ser visitada, de 3ª feira a sábado, entre as 9 e as 12,30 horas e entre as 14 e as 17horas.
Uma Exposição a merecer a sua visita.

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terça-feira, 25 de agosto de 2009

400 ANOS DEPOIS

Passam hoje 400 anos sobre o dia em que Galileu Galilei apresentou o seu telescópio às autoridades venezianas. O instrumento por si desenvolvido revelar-se-ia peça fundamental para avanços na astronomia, entre os quais a descoberta de quatro luas de Júpiter e a confirmação das ideias de Copérnico sobre o sistema solar (NUNO GALOPIM in Diário de Notícias – 25/8/2009).
O telescópio de Galileu inspirou o desenvolvimento de novos instrumentos ao longo dos séculos...
... O mais famoso deles, o Hubble, nem está no planeta. Em órbita desde 1990, o telescópio já enviou milhares de imagens do espaço, como esta, na semana passada, da Nebulosa do Caranguejo, a mais de 6 mil anos-luz da Terra. Algo quem nem Galileu sonharia.
Quando foi julgado por heresia, pela Inquisição, em 1633, e forçado a abjurar a sua crença de que a Terra se movia à volta do Sol, Galileu terá murmurado: "Eppur si muove" ("No entanto move-se").
Até Galileu Galilei, para uma teoria poder ser reconhecida e aceite pela sociedade da época, tinha de se basear em argumentos religiosos. Com Galileu Galilei há uma mudança de paradigma, pois a observação e a experimentação passam a ser os pilares nos quais se passa a fundamentar a Física e com ela a Ciência, que se liberta do jugo da Religião.
A Igreja é uma estrutura pesada e conservadora, de tal modo que só em 1992, o Papa João Paulo II deu por encerrado o Processo Galileu, reconhecendo que a Igreja tinha cometido erros.
Pensamos que o Poema para Galileu de António Gedeão sintetiza magistralmente de uma forma poética, aquilo que foi o Processo Galileu.

ANTÓNIO GEDEÃO (1906-1997)

Poema para Galileo

Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua bela cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não, Galileo! Eu não disse Santo Ofício.
Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florenca.
Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria
Eu sei... Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo Galilei!


Olha. Sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo da tua mão direita num relicário.
Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa
que entraste no calendário.


Eu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência as coisas que me deste.
Eu,
e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ia jurar -- que disparate, Galileo!
-- e jurava a pés juntos e apostava a cabeca
sem a menor hesitação --
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.
Pois não é evidente, Galileo?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa ou que um seixo da praia?
Esta era a inteligência que Deus nos deu.


Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e de capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando num perigo
para a Humanidade
e para a Civilizacão.


Tu, embaraçado e comprometido, em silêncio mordiscavas os lábios,
e percorrias, cheio de piedade,
os rostos impenetráveis daquela fila de sábios.
Teus olhos habituados à observação dos satélites e das estrelas,
desceram lá das suas alturas
e poisaram, como aves aturdidas -- parece que estou a vê-las --,
nas faces grávidas daquelas reverendíssimas criaturas.
E tu foste dizendo a tudo que sim, que sim senhor, que era tudo tal qual
conforme suas eminências desejavam,
e dirias que o Sol era quadrado e a Lua pentagonal
e que os astros bailavam e entoavam
à meia-noite louvores à harmonia universal.
E juraste que nunca mais repetirias
nem a ti mesmo, na própria intimidade do teu pensamento, livre e calma,
aquelas abomináveis heresias
que ensinavas e escrevias
para eterna perdição da tua alma.


Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a rolar pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.


Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.


ANTÓNlO GEDEÃO